Mulheres de coragem

Arrojadas e determinadas, elas mulheres investiram em suas carreiras muito antes da abertura do mercado ao talento feminino

Fernanda Guerra

São José dos Campos

Arrojadas, determinadas, corajosas, pioneiras. Assim são as mulheres que encararam o mercado de trabalho sem medo quando a maioria das meninas era criada para ser dona-de-casa. Para comemorar o Dia da Mulher, celebrado hoje, o ValeParaibano publica alguns exemplos de vida de personagens que inspiraram e ainda inspiram mulheres da região a lutar pelos seu direitos e conquistar espaço na sociedade.

Cenira Silva Sacilotti é uma delas. Aos 69 anos ela é diretora operacional de uma empresa de segurança patrimonial de São José dos Campos.

Atualmente à frente de mais de 800 funcionários, Cenira nunca se deixou intimidar em uma área que há 30 anos era predominantemente masculina. Para ganhar respeito em um mundo dominado por homens, a executiva se valeu de seu jeito doce, vontade de aprender, idéias inovadoras e muito bom-humor para superar as advesidades.

"No começo olhavam desconfiados para mim. Acho que pensavam o que é que eu estava fazendo na empresa. Aos poucos consegui mostrar o que sabia fazer e o que esperava dos funcionários", disse Cenira.

Professora primária, Cenira viu sua vida mudar e se encher de novos desafios quando resolveu trabalhar na empresa que o marido fundara seis anos antes. Era 1976 e sem nenhum conhecimento acadêmico na área empresarial Cenira mudou o conceito de gestão de funcionários no estabelecimento.

"Comecei a freqüentar a empresa todos os dias, mesmo que não fizesse nenhum trabalho específico. O objetivo era observar cada departamento e aprender o máximo possível sobre seu funcionamento."

Depois deste período, ela começou a implementar seus próprios métodos de gestão e surpreendeu.

"Como mulher acho que trouxe a maleabilidade de entender problemas pessoais dos funcionários e mostrei que é importante escutar e valorizar individualmente cada pessoa. Me sinto muito privilegiada de trabalhar até esta idade."

Advogada, jornalista, poeta, entre muitas outras coisas, Judith Mazella Moura, 86 anos, também se considera uma pioneira, e não é para menos. Em plena década de 1950, ao lado das amigas Ligia Fumagalli Ambrogi e Jorgina Xavier, ela fundou, dirigiu e escreveu o jornal mensal "O Diferente".

"Foi uma inovação. Não conheço nenhum outro jornal que tenha sido assim, totalmente feito apenas por mulheres", disse Judith.

Em 1967, em uma atitude ousada, Judith resolveu se candidatar a vereadora. No ano seguinte assumiu sua cadeira na Câmara e um posto ainda mais importante: a de primeira vereadora mulher de Taubaté.

"É com muito orgulho e humildade que digo que abri as portas da Câmara de Taubaté para as mulheres. Comigo não tem essa de diferenciar o trabalho de homens e mulheres, nunca deixei que o preconceito chegasse perto de mim".
ARTES - Entre os mestres que ajudaram a formar gerações de artistas em Taubaté, um nome se destaca. Professora de canto e coral, Neide Silva Áureo Soares, 78 anos, se dedica com afinco desde a década de 1960 aos alunos da Escola Fêgo Camargo, em Taubaté.
"Sempre fui muito bem aceita e tive muita vontade de fazer as coisas. Até hoje eu digo para meus alunos que eu posso ser a mais antiga, mas não sou museu. Se parar, eu morro de tristeza", disse Neide.

A área artística também serviu como campo profissional para a musicista Geny Marcondes. Com 89 anos de idade, ela lembra com saudade da agitada vida que a levou de Taubaté para a rádio do Mistério da Educação, no Rio de Janeiro, na década de 1930.

Especializada em composição, Geny criou inúmeras canções para teatro e foi a responsável pelos arranjos da música "A Banda" de Chico Buarque, que foi defendida pela cantora Nara Leão e venceu o Festival da Música Popular Brasileira de 1966.

"Não sei se era por causa do campo que escolhi, pois havia pouca gente compondo para teatro, mas nunca me senti em desvantagem por ser mulher. Sempre fui muito novidadeira, quando criança já brincava de ser artista", contou Geny, que acredita que as mulheres conquistaram o direito de exercer novos papéis na sociedade.

"Antigamente as mulheres eram escravas do marido. Hoje vivenciamos um novo modelo econômico e social e estamos caminhando para um equilíbrio maior entre homens e mulheres."

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